A vitória diplomática que a China quer mostrar ao mundo em setembro
28/08/2025
(Foto: Reprodução) Presidente da China, Xi Jinping.
Getty Images via BBC
O líder norte-coreano Kim Jong-un participando de um desfile militar no centro de Pequim, ao lado do presidente russo Vladimir Putin e do líder chinês Xi Jinping, rende uma imagem poderosa.
Mas é também uma vitória diplomática importante para Xi.
O dirigente chinês vem se esforçando para projetar o poder de Pequim no cenário internacional — não apenas como a segunda maior economia do mundo, mas também como um peso-pesado diplomático. Ele tem destacado o papel da China como parceiro comercial estável, num momento em que as tarifas impostas por Trump abalaram relações econômicas globais.
Agora, enquanto um acordo com Putin para encerrar a guerra na Ucrânia continua fora do alcance do presidente dos EUA, Xi se prepara para recebê-lo em Pequim. A presença de Kim, anunciada de surpresa, não é menos significativa.
Na semana passada, Trump disse, em encontro com o presidente da Coreia do Sul, que gostaria de se reunir novamente com Kim Jong-un. Sua última tentativa de diplomacia com o líder recluso terminou sem avanços — apesar de duas cúpulas que prenderam a atenção do mundo. Ainda assim, Trump sugere que quer tentar de novo.
Enquanto isso, o líder chinês sinaliza que pode estar com as cartas geopolíticas na mão — e que sua influência, ainda que limitada, sobre Kim e Putin pode ser decisiva em qualquer negociação.
O desfile de 3 de setembro exibirá o poderio militar da China para marcar os 80 anos desde a rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial, que pôs fim à ocupação de partes do território chinês.
Mas Xi transformou o evento em algo além disso — e o momento é estratégico. A Casa Branca sugeriu que o presidente Trump pode estar na região no fim de outubro e aberto a se encontrar com Xi.
Há muito sobre a mesa para eles discutirem: desde o aguardado acordo sobre tarifas e a venda do TikTok nos Estados Unidos, até a capacidade de Pequim de convencer Putin a aceitar um cessar-fogo — ou algo mais — na Ucrânia.
Agora, depois de ter se reunido com Kim e Putin, o líder chinês poderá se sentar com Trump sem dar a impressão de estar à margem das negociações — e, graças à sua proximidade com os dois, talvez até tenha informações que seu contraparte norte-americano desconhece.
Aos olhos do Ocidente, Rússia e Coreia do Norte são párias. Kim há muito mais tempo que Putin, por causa de seu programa nuclear; mas seu apoio à invasão da Ucrânia renovou as condenações internacionais. Por isso, o convite para Pequim representa um grande passo para ele — a última vez que um líder norte-coreano participou de um desfile militar na China foi em 1959.
Desde 2019, quando se encontraram para celebrar os 70 anos da aliança sino-coreana, Xi e Kim tiveram pouco contato público. Pequim também foi a primeira parada de Kim Jong-un em 2018, antes de suas cúpulas com o presidente Trump para tentar conter o programa nuclear de Pyongyang.
Mais recentemente, Xi chegou a parecer à margem da aliança cada vez mais estreita entre Moscou e Pyongyang — uma relação da qual Pequim talvez preferisse não participar.
A China tem procurado manter uma posição de neutralidade pública em relação à guerra na Ucrânia, ao mesmo tempo em que pede uma solução pacífica. Mas os Estados Unidos e seus aliados acusam Pequim de apoiar os esforços de Moscou, fornecendo componentes que a Rússia pode usar em sua máquina de guerra.
Alguns analistas chegaram a cogitar que a relação da China com a Coreia do Norte tivesse esfriado à medida que Kim se aproximava de Putin. Mas a visita de Kim a Pequim na próxima semana sugere o contrário.
Não é uma relação da qual o líder norte-coreano possa abrir mão facilmente — sua economia depende fortemente da China, que responde por quase 90% das importações de alimentos. Além disso, estar naquele palco, não apenas ao lado de Putin e Xi, mas também de outros líderes, como os da Indonésia e do Irã, dá a Kim legitimidade.
Para Xi, trata-se de uma alavanca diplomática diante de Washington, às vésperas de uma possível cúpula com Trump. Os dois países continuam em negociações para tentar chegar a um acordo e evitar tarifas devastadoras e uma guerra comercial. Mais uma trégua de 90 dias está em vigor, mas o tempo corre, e Xi quer ter a mão mais forte possível conforme as tratativas avançam.
Ele tem muito a oferecer: a China já ajudou Trump no passado, quando ele tentou se encontrar com Kim Jong-un. Poderia Xi repetir esse papel?
Mais importante ainda é a questão de qual papel a China poderia desempenhar para encerrar a guerra na Ucrânia.
E a pergunta mais instigante de todas: poderia haver um encontro entre Xi, Putin, Kim e Donald Trump?